Douglas Ward começou a se interessar por navios quando, ainda criança a crescer em Inglaterra, ia de bicicleta até perto de Southampton para assistir à saída de alguns grandes transatlânticos para o mar. Em 1965 fez a sua primeira viagem transatlântica. Durante cerca de 20 anos trabalhou em nove companhias de cruzeiro diferentes, exercendo uma série de funções, a última das quais como director de cruzeiro. Há cerca de 25 anos, trocou o seu microfone por uma caneta e começou a escrever sobre cruzeiros e navios de cruzeiro. Este ano marca a 20 ª edição do Ocean Cruising & Cruise Ships 2005.
Douglas Ward passa actualmente oito meses do ano no mar e tem o compromisso de marcar e ajudar a manter os altos padrões da indústria de cruzeiros. É presidente da “Maritime Evaluations Group” (Grupo de Avaliações Marítimas), uma agência internacional independente que classifica as companhias de cruzeiros marítimos do mundo inteiro. Recentemente, Douglas Ward encontrou-se com ShipsandCruises’ PW Mooney a bordo de um navio de cruzeiro. Aqui ficam alguns excertos da conversa:
Como faz a classificação dos navios de cruzeiro?
Recai tudo nos detalhes. Tudo conta para a classificação de um navio: limpeza, nível de ruído, isolamento acústico, manutenção, higiene, os camarotes e casas de banho, a experiência do jantar, serviço e hospitalidade. Na maioria dos navios novos, o isolamento entre os camarotes não é tão bom. Mas num navio, por exemplo, da classe do Europa, o isolamento é muito bom. Além disso, a forma como a equipa se preocupa com o navio e atenção aos detalhes também são considerados. Um exemplo: não encontra o açúcar em açucareiros abertos em muitos navios, actualmente. Encontra os pacotes do costume. Pode encontrá-los em navios europeus, mas não na maioria dos navios dos EUA.
Vê pessoalmente todos os navios que classifica, todos os anos?
Não, nem todos os anos. Quando é um navio como o Voyager of the Seas ou o Coral Princess, o bom funcionamento mantém-se de ano para ano. Mas se o navio sofreu grandes alterações nas suas instalações físicas ou alterações aos produtos e serviços de refeições, então vou ver o que foi feito. Caso contrário, conheço os navios muito bem.
Quantos navios visita por ano?
Entre 40 e 70 navios em todo o mundo.
Como tem acesso aos navios que vai avaliar no seu livro?
Os navios de cruzeiros passam por um processo no qual mais de 400 itens são avaliados em 20 secções principais. Para efeitos de facilidade de utilização (e espaço), estas são reduzidas a seis secções principais (Navio, Alojamento, Alimentação, Serviço, Outros Aspectos). Os índices são criados a partir de uns possíveis 2.000 pontos (100 x 20 secções principais).
Trabalha sozinho nas avaliações dos navios?
Apesar de ter um pequeno número de avaliadores de navios que trabalham para a UK Maritime Evaluations Group Ltd., da qual sou presidente, somente eu estou autorizado a pontuar cada navio. E tenho também um editor em Londres que é muito bom. Ele e eu revimos o manuscrito do meu livro. Para o guia de 2005, fizemos meio milhão de palavras em 48 horas, o que é muito bom.
O que há de novo no seu livro este ano?
Bem, temos uma secção chamada “As 7 Grandes”, que mostra como as sete grandes companhias de cruzeiro pontuam na cozinha e sala de jantar. O livro também discute como é cada companhia, como é a experiência do cruzeiro, a decoração a bordo e a comida servida.
Por exemplo, muitas pessoas não sabem realmente qual é a diferença entre a Celebrity e a Royal Caribbean International. Bem, na Royal Caribbean os passageiros têm chávenas de plástico com colheres de madeira; no Celebrity, têm chávenas de porcelana e colheres de prata. O que me aborrece é que a maioria dos escritores de viagens não entram em detalhes e tendem a confundir o público. Sem qualquer desrespeito, mas no meu livro não tenho espaço suficiente para ajudar as pessoas a fazerem as escolhas certas.
Como é que surgiu o Factor Aveia?
O Factor Aveia surgiu como resultado de uma série de comentários de passageiros sobre algum tipo de definição quanto ao serviço de algo tão básico como uma tigela de cereais. Então, lembrei-me da aveia e funciona lindamente. O que eu tenho feito é pegar nos quatro segmentos do livro – o Padrão, o Premium, o Luxo e o Exclusivo – e diferenciá-los. E é aí que o Factor Aveia entra, já que a simples apresentação da aveia vai variar conforme os diferentes navios: desde a aveia de supermercado servida de uma terrina para uma tigela de baixo custo nos cruzeiros padrão até à aveia escocesa quente, apresentada em porcelana de alta qualidade e com uma selecção de condimentos, tais como tahine (taíne) ou noz-moscada.
Sente que a indústria de cruzeiros está a chegar ao seu ponto de saturação, com todos os novos navios que saem nos próximos três ou quatro anos?
Os escritores têm vindo a prever o ponto de saturação para a indústria de cruzeiros nos últimos 20 anos. Todos estavam errados! Ainda temos cerca de 30 navios em construção e que vão estrear nos próximos anos. E com os novos regulamentos SOLAS, alguns navios sairão de circulação e outros serão abatidos por causa da idade.
A indústria de cruzeiros pode ter muitos navios em determinados mercados, mas sou da opinião que é mais uma questão de pouca procura do que de excesso de oferta. Estou também convencido de que ainda há espaço para mais operadores de nicho (navios mais específicos – navios de idioma, navios SPA, navios de expedição).
Que conselho daria aos principiantes em cruzeiros para que possam fazer a escolha certa do navio de cruzeiro?
Para escolher o navio certo pelas razões certas, devem ler o Berlitz Ocean Cruising and Cruise Ships ou fazer uma pesquisa na Internet. Mas é realmente aconselhável marcar a viagem através de uma agência especializada em viagens em navios de cruzeiro, que deverá traçar o perfil dos passageiros e dos seus estilos de vida para encontrar o navio certo, pelas razões certas.
Por que pensa que este livro é tão importante para aqueles que pretendem efectuar um cruzeiro?
Como a indústria de cruzeiros se tem expandido, de forma a dar resposta a um mercado mais vasto e diferente, o livro tem também evoluído. A certa altura, fazer um cruzeiro era um passatempo de luxo para os muito ricos, mas actualmente é acessível a todos. Com o expandir do mercado, as escolhas dos navios e a variedade do nível de serviços prestados também se expande. Fazer uma escolha para umas férias perfeitas torna-se mais complicado.
Como vê a indústria de cruzeiros daqui a dez anos?
A indústria de cruzeiros vai continuar a crescer, embora das cerca de 70 companhias de cruzeiros de alto-mar a operar, estou certo de que algumas não irão sobreviver. O que vejo que irá acontecer será uma melhor diferenciação do produto e maior personalização das excursões a bordo e em terra. Em dez anos, espero que as pessoas façam cruzeiros para se revitalizarem mais. Espero também que os telemóveis sejam proibidos e que as boas maneiras e a etiqueta melhorem.