O mar está cheio de jargões e tradições peculiares, algumas das quais perduram há séculos. Neste artigo reunimos uma lista de factos interessantes sobre navios de cruzeiro, bem como factos náuticos gerais para satisfazer a sua curiosidade.
Porque é que alguns Navios de Cruzeiro não têm Deck 17?
Os italianos são particularmente cuidadosos no dia 17 de cada mês, já que não podem retirar o número do azar do calendário, e calhando o 17 a uma sexta-feira, tentam nem sair de casa! De resto, existem prédios em Itália que passam diretamente do 16º para o 18º andar e existem companhias aéreas, como a antiga Alitalia, sem a linha de embarque número 17, pelo que não é de estranhar que o mesmo aconteça com os navios de cruzeiro… Efetivamente, não existe o deck 17 ou o camarote 17 (em qualquer deck) nos navios da MSC Cruzeiros, a famosa companhia italiana.
E tudo devido à forma como o número se escreve! Em algarismos romanos, o número 17 é escrito assim – XVII. Até aqui tudo bem, só que os italianos reorganizaram o número romano e perceberam que conseguiam soletrar a palavra latina “vixi” que significa “eu vivi“. E se noutras culturas a expressão não traz consigo uma carga negativa, na cultura italiana não é bem assim. A palavra “vixi” é considerada um prenúncio de morte!
O que significa ter “pernas do mar”?
A expressão pernas do mar é uma frase muito popular no jargão náutico, e refere-se à inépcia das pessoas manter o equilíbrio enquanto estão num barco. Embora originalmente se referisse apenas à capacidade de manter o equilíbrio num convés sem ter que segurar algo sólido para manter o equilíbrio, com o passar do tempo, o termo também passou a incluir a capacidade de tolerar o balanço de um navio sem ficar enjoado. Embora semelhante, quando sai de um navio e ainda sente que está a balançar, isso é de fato conhecido como “dock rock”, ou mais cientificamente, «Mal do desembarque».
Qual a origem do termo “como o corvo voa”?
Muito antes do aparecimento dos sistemas de navegação por satélite, como o GPS, os marinheiros eram obrigados a confiar em outros métodos para encontrar o rumo certo. Um dos métodos ancestrais consistia em carregar gaiolas cheias de corvos para usar como auxiliares na navegação costeira. Se os marinheiros estivessem incertos da sua posição e orientação ao se aproximarem da terra, soltavam um dos pássaros, que voaria pela rota mais curta e direta em direção à terra. Numa linguagem mais coloquial, “como o corvo voa” passou a significar a rota mais curta e direta entre dois pontos, geralmente uma linha reta.
Quanto maior o navio, maior o casino
O jogo é muito comum em navios de cruzeiro e há uma regra informal que é transversal: quanto maior o navio, maior o casino a bordo. A Royal Caribbean é famosa pelos seus navios da classe Oasis, os maiores navios de cruzeiro do mundo. Estes navios possuem casinos enormes a bordo, com mais de 450 slot machines e inúmeras mesas de jogo espalhadas por centenas de metros quadrados, onde os turistas podem apostar numa mesa de roleta ou jogar os dados. O Oasis of the Seas, parte da frota da Royal Caribbean, detém o recorde por possuir o maior casino ao «estilo Vegas» sobre a água.
Os navios de cruzeiro são chamados no feminino
Uma tradição marítima que começou com os primeiros marinheiros e ainda é amplamente praticada hoje é chamar os navios de “ela”. Embora possa parecer estranho se referir a um «objeto» como “ela”, existem algumas teorias sobre a origem do género feminino atribuído aos navios. A teoria mais comum sugere que os navios são femininos porque os capitães – habitualmente homens – batizaram os seus navios em homenagem às mulheres que amavam. Existe ainda uma teoria alternativa que associa a figura feminina, como uma mãe ou uma deusa, capaz de guiar e proteger o navio e toda a sua tripulação.
O significado das madrinhas dos navios de cruzeiro
Embora a bênção dos navios existam há séculos, nos últimos 100 anos, as madrinhas receberam maior destaque. Elas são convidadas pelas companhias de cruzeiros para conceder boa sorte e uma orientação segura, e para dar “vida” ao navio. Hoje, elas também assumem um papel mais promocional, através publicidade dos navios de cruzeiro. Algumas companhias até brincaram com o conceito de madrinhas, com a Disney a nomear para madrinhas personagens animadas – Fiona de Shrek abençoou o Allure of the Seas e Tinker Bell o Disney Wonder. Na cidade do Porto a 22 de Março de 2022, as atrizes Sharon Stone e Andie MacDowell tornaram-se madrinhas dos navios AmaVida e Queen Isabel, respetivamente, da Douro Azul.
Quando um barco se torna um navio?
Linguisticamente, não há uma grande diferença entre um barco e um navio, mas a regra militar é que se pode colocar um barco num navio, mas não se pode colocar um navio num barco. Geralmente um barco faz mais as navegações costeiras, não muito longe de terra, enquanto os navios fazem mais viagens oceânicas. Embora não seja oficial e nenhuma designação esteja incorreta para qualquer comprimento, há uma linha popular traçada em torno dos 60 pés (18 metros), ponto a partir do qual o barco se torna num navio.
A sessão informativa sobre emergências é chamada de «reunião»
Semelhante à segurança da aviação, a lei marítima exige que todos os passageiros de navios de cruzeiro participem numa sessão sobre o uso do colete salva-vidas e o que fazer em caso de emergência. Embora o termo ‘reunião’ soe estranho neste contexto, não existe nenhum significado subjacente – a palavra significa simplesmente “reunir” para realizar a sessão informativa. Este tipo de exercício existe há anos, mas tem sido aplicado com mais rigor desde o desastre do Costa Concordia.
Garrafa de champanhe contra a proa durante o batismo dos navios
Romanos, Gregos e Egípcios todos já celebravam a construção de um navio para pedir aos deuses que protegesse os seus marinheiros. Diz a lenda que o derramamento de água, álcool e até sangue promete boa sorte e prosperidade. A longa tradição começou com uma taça de pé, uma taça grande feita de metal precioso, da qual o vinho era bebido por um oficial antes de ser derramado sobre o convés e proa do navio. A partir do final do século XIX, esta preciosa taça foi substituída pela quebra de uma garrafa de champanhe.