
O Blog dos Cruzeiros inicia hoje uma série de entrevistas aos líderes do Turismo de Cruzeiros em Portugal. Em plena pandemia, provocada pela COVID-19, um dos setores mais atingidos foi precisamente o dos cruzeiros.
Como sempre a indústria terá a capacidade para se reinventar e voltar mais forte. Embora ainda seja muito cedo para antecipar medidas concretas, fomos tentar saber qual a abordagem do setor para quando sairmos desta crise mundial.
A primeira entrevista é com Francisco Teixeira, diretor-geral da Melair, que representa em Portugal as companhias Royal Caribbean, Celebrity Cruises, Azamara e Pullmantur.
1) Como é que está a ser gerido o impacto juntos dos clientes e nas suas reservas? Os clientes tem consciência da situação e preferem adiar para data posterior ou, pelo contrário, têm cancelado e preferem outro tipo de produto?
As operações das nossas frotas estão suspensas. Temos um programa de cancelamento Cruzeiro com Confiança já implementado desde 6 Março 2020 que tem tido uma boa aceitação por parte dos nossos clientes. Este programa destina-se a clientes com partidas suspensas e a clientes que desejam cancelar a sua reserva pelos receios das circunstâncias atuais. Para cada uns dos casos aplicam-se condições especiais. A percentagem de cancelamentos é razoável, mas o nosso programa permite que o cliente possa escolher uma nova data de partida até 31 de Dezembro 2020 ou 2021 dependendo das condições de cancelamento da reserva.
2) Podemos esperar que esses clientes possam ser recuperados sendo principalmente os estreantes os mais vulneráveis ou difíceis de recuperar?
Neste momento pensamos que devemos aguardar e conhecer todas as novas medidas de segurança que as companhias irão introduzir antes de nos focarmos na medição do comportamento do consumidor. As companhias estão focadas em implementar todas as novas medidas necessárias para garantir a segurança e saúde dos seus hóspedes e tripulações. Acreditamos que a confiança nas medidas tomadas irão reanimar o mercado dos cruzeiros.
3) Há indícios que apontam para um aumento do número de reservas para 2021. Estará relacionado com certeza com esta crise, os clientes preferem “saltar” 2020 e reservar já para o próximo ano?
Por norma este não é um período alto de reserva antecipada. Neste momento as reservas para 2021 estão a níveis normais e quem reservou 2020 está já a reservar para o próximo ano.
4) Várias foram as medidas tomadas pelas companhias para prevenir a entrada de passageiros com sintomas da doença. É de esperar que essas medidas possam ser prolongadas indefinidamente, ou pelo menos, até a COVID-19 estar controlada através de uma vacina?
As companhias irão rever todo o seu plano de prevenção já existente, tal como em qualquer outro espaço público terá de o fazer, e perante esta situação, os protocolos serão com certeza muito mais exigentes no futuro.
5) A higienização a bordo é, como sabemos, um dos factores mais importantes no controlo de doenças contagiosas a bordo. Deveremos esperar medidas de prevenção mais radicais, como a diminuição da capacidade de passageiros dos navios ou a proibição de entrada de doentes com determinadas patologias, ou até testes rápidos à doença (à semelhança do que tem feito a Emirates)?
A indústria dos cruzeiros sempre teve medidas de elevado grau de higienização, e perante a característica deste surto, será necessário adequar todos os protocolos para garantir a segurança dos hóspedes e tripulação. As nossas companhias são rigorosas na formação das equipas, implementação e controle de todas a medidas. Sempre fomos reconhecidos pelo respeito de todas as regras de segurança e assim continuaremos para o bem de todos que nos confiam as suas férias.
6) Todos os portugueses querem mais cruzeiros desde portos nacionais. Sabemos do esforço que as companhias têm feito para trazer os navios para Portugal. Não será o pós-COVID-19 uma altura ideal para haver mais embarques e itinerários diferenciados desde Portugal?
São vários os fatores a considerar por uma companhia de cruzeiros, no lançamento de uma rota com partidas de uma determinada cidade. Um deles o mercado local, cujo nosso não tem volume suficiente para suportar uma operação alargada, como também os mercados emissores potenciais para esse destino e quais os itinerários acessíveis, assim como, as rotas e capacidade aérea existente entre a cidade de embarque e os mercados potenciais. Comentando diretamente a sua pergunta, e considerando que hoje Portugal é um destino turístico de qualidade, reconhecido mundialmente, pode ser que alguma companhia de cruzeiros possa considerar essa possibilidade, caso consiga reunir todas as condições económicas necessárias.